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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A análise geográfica

Por Leonardo Luiz Silveira da Silva

"Todo mundo acredita que a geografia não passa de uma disciplina escolar e universitária, cuja função seria a de fornecer elementos de uma descrição do mundo, numa certa concepção "desinteressada" da cultura dita geral ... Pois, qual pode ser de fato a utilidade dessas sobras heteróclitas das lições que foi necessário aprender no colégio? As regiões da bacia parisiense, os maciços dos pré-Alpes do norte, a altitude do Monte Branco, a densidade da população da Bélgica e dos países baixos, os deltas da Ásia das Monções, o clima bretão, longitude, latitude e fusos horários, os nomes das principais bacias carboníferas da URSS e dos grande lagos americanos, etc."
"Uma disciplina maçante, mas antes de tudo simplória, pois, como qualquer um sabe, "em geografia nada há para entender, mas é preciso ter memória"  De qualquer forma, após alguns anos, os alunos não querem mais ouvir falar dessas aulas que enumeram, para cada região ou para cada país, o relevo, o clima, a vegetação, a população, a agricultura, as cidades e as indústrias." (LACOSTE, 2005, p.21)

A construção da percepção da geografia como uma disciplina meramente descritiva, bem como o sufixo "grafia" sugere é condenável. A geografia é uma disciplina ANALÍTICA e como tal, exige uma construção teórica que difere do enciclopedismo e da tradicional decoreba. A geografia escolar já foi meramente descritiva. Assim como a tecnologia avança a serviço da sociedade, as disciplinas também reposicionam o seu lugar e redimensionam o seu escopo. Desta forma, as avaliações escolares e as aulas não podem ser meramente descritivas. Os livros didáticos, contudo, permanecem como bastiões do tradicionalismo, mas NÃO podem ser abandonados, como veremos a seguir.

Muito mais importante do que recitar rios do continente norte-americano (ENCICLOPEDISMO) é observar em um mapa hipsométrico (de relevo) um rio, cujo o nome não se sabe, atravessar um terreno acidentado e sugerir formas de seu aproveitamento de suas águas (ANÁLISE). Mais importante do que decorar os tipos climáticos de todo o mundo (ENCICLOPEDISMO) é comparar dois climogramas e sugerir qual deles pertence a uma localidade situada em maior latitude (ANÁLISE). Mais importante do que decorar todo o conjunto de regras que compõem o Tratado de Maastrich que dá rumo a União Europeia (ENCICLOPEDISMO) é compreender os impactos da moeda única para o continente europeu (ANÁLISE).

Para construir a análise, é necessário o desenvolvimento das ferramentas geográficas. São elas, por exemplo:

- A compreensão dos problemas e das possibilidades do uso de indicadores socioeconômicos;
- o "alfabetismo cartográfico";
- A compreensão entre as interações das "esferas terrestres": atmosfera, biosfera, hidrosfera e litosfera;

Uma vez desenvolvidas as ferramentas geográficas, o aluno torna-se capaz de interpretar situações problemas de regiões terrestres que nunca visitou, nunca leu a respeito e nunca ouviu falar. Este é o "elixir da geografia". O ponto de partida para o desenvolvimento das ferramentas geográficas é a BASE CONCEITUAL:
 Exemplo:
- conceituar amplitude térmica.
- diferenciar o conceito de amplitude térmica diária de amplitude térmica anual.

Aí entra o livro didático. O LIVRO é o BANCO mais COMPLETO de BASE CONCEITUAL que o aluno terá durante o ano letivo. Contudo, existem alguns alunos que não sentirão tanta necessidade do livro didático como outros. COMO isto se explica?
Pelo nível de desenvolvimento das ferramentas geográficas. Existem alunos que, pela sua experiência de vida, pelas horas sentados na frente do sofá assistindo jornal, pela curiosidade inata de interpretar informações incompletas, desenvolveram diversas ferramentas geográficas e estão em um nível acima da base conceitual contida nos livros.

Os livros estão errados?
Nem todos são bons, talvez pela pouca ousadia do autor em abordar mais temas analíticos, exigir mais ferramentas geográficas e se limitarem algumas vezes na base conceitual.  NEM todos os temas podem extrapolar a base conceitual no nível escolar. Isto também é importante destacar. Existem temas que a base conceitual basta, pois o nível analítico do assunto que carrega é tema universitário. Exemplo: A compreensão da dinâmica dos fenômenos El Nino e La Nina juntamente com as consequências nas mais isoladas áreas do globo terrestre. Para tanto, é necessário um conjunto de informações, extremamente dinâmico, como é o clima que não se repete de um ano para o outro, para que o analisador consiga apontar qual é o peso da participação do El nino para meses muito quentes.

Como usar o livro:
Como base conceitual, como um guia que organiza os conteúdos a serem vistos na série e como um banco de análises.

Foi dito que o livro não possui análises?
Não. O livro as possui. O professor não pode se limitar a elas pois não existe um livro que consiga abordar todas as possibilidades de situação problema. Diante de possibilidades tão variadas, parece-me precário para o geógrafo se ater ao livro.


Questões:

1) Diferencie a análise do enciclopedismo.
2) Qual é o papel do livro didático?
3) Toda a base conceitual é passível da mais profunda análise em nível escolar? Justifique.
4) Quem possui conceitos geralmente consegue analisar ou quem analisa domina os conceitos? Justifique.