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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

# 3 Morre o presidente Kim Jong-il

Por Leonardo Luiz Silveira da Silva
Morreu neste dia 19 de dezembro de 2011 Kim Jong-il, presidente da Coréia do Norte e sucessor de Kim il-Sung, deixando como provável precessor o seu filho Kim Jong-un. O mundo observará atentamente a reorganização do executivo norte-coreano, na esperança de que o novo chefe de Estado possa tornar a Coréia do Norte um país mais aberto ao diálogo.




Um dos últimos bastiões do socialismo em sua forma mais ortodoxa (comparado aos demais regimes que adotaram essa forma de governo), a Coréia do Norte parece ainda viver na década de 1960. Podemos afirmar isso se tomarmos como base o isolamento do país ao ocidente bem como se analisarmos o atraso de suas obsoletas estruturas/modelo produtivos, que custam a Coréia do Norte a difícil situação econômica em que se encontra. O país adotava a política conhecida como "Nuke for food" - mísseis por comida - que consiste na ameaça de produção de armas de destruição em massa (nucleares no caso em questão) como forma de persuasão política. Com essa ameaça a Coréia do Norte conseguiu por algumas vezes angariar apoio econômico internacional a troco de uma suposta suspensão do "programa de desenvolvimento bélico" tão inquietante para a Coréia do Sul - país vizinho e dotado de rivalidades históricas em relação ao seu vizinho setentrional - e para o Japão.

O novo chefe do executivo terá a tarefa de lidar com um país cambaleante no ponto de vista econômico e que sofre cada vez mais pressões para a descaracterização do seu modelo político econômico. Enfrentará o dilema já experimentado outrora por Mikhail Gorbatchev: o de flexibilizar a economia e a política como forma de revigorar a economia (colhendo com isso a descaracterização do regime) ou, em um caminho contrário, o de manter a ortodoxia político econômica como forma de manter o regime (colhendo com isso a atrofia econômica). Essa escolha já estava nas mãos do falecido líder Kim Jong-il, cabendo agora ao seu sucessor dançar a mesma música ou apostar em uma nova melodia.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Dica de Leitura II - Topofilia (1980)

Por Leonardo Luiz Silveira da Silva

Yi-Fu Tuan definiu um neologismo que trabalha com os conceitos de cultura e paisagem: a topofilia.
Para Tuan (1980),

A topofilia é um neologismo, útil quando pode ser definida em um sentido mais amplo, incluindo todos os laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material. A resposta ao meio ambiente pode ser basicamente estética: em seguida, pode variar dô efêmero prazer que se tem de uma vista, até a sensação de beleza, igualmente fugaz, mas muito mais intensa, que é subitamente revelada. A resposta pode ser tátil: o deleite ao sentir o ar, água, terra. Mais permanentes e mais difíceis de expressar, são os sentimentos que temos para com um lugar, por ser o lar, o locus de reminiscências e o meio de se ganhar a vida. (TUAN, 1980, p.107)

                       A obra "topofilia" de Tuan está esgotada.
                      Esperamos pela boa vontade de alguma editora...



O conceito de topofilia está ligado a atribuição de um valor cultural a um elemento da paisagem. O neologismo de Tuan, topofilia, consegue através de um conceito expressar um significado denso, que é justamente a relação entre a paisagem, memória e cultura. O próprio Tuan escreve um outro livro chamado Paisagens do Medo, em que um sentimento oposto ao da topofilia, visto muitas vezes como uma atribuição cultural positiva, é destacado. Para as paisagens do medo, é sugerido o termo "topofobia", uma derivação do original topofilia. Este jogo de palavras não terminou aqui. O legado de Tuan deu origem a outros termos dados por profissionais que apreciam a percepção ambiental. Neste caso, um destaque para Douglas Porteous (1988) que criou o termo topocídio, que seria a aniquilação de paisagens ou elementos dela que receberam significado cultural e que foram brutalmente aniquiladas. Porteous, no seu caso particular, utiliza o termo na ocasião da substituição gradativa de uma área residencial por outros tipos de uso.  O conceito de topocídio é muito útil hoje. Afinal, o respeito aos valores culturais de outras sociedades, sobretudos aquelas mais frágeis, é muito necessária. Para tanto, o relativismo cultural torna-se um valor muitissimo necessário como forma de garantir a pluralidade cultural, ou, pelo menos, evitar a violência de um processo de aculturação abrupto.


              Outra Obra de Tuan: A paisagem do Medo
               Este livro não está esgotado como a Topofilia.
              Em um dos seus capítulos, aborda a interessante ideia
             das sociedades sem medo, em que, por exemplo, a morte
              não é vista como assombro e o luto não existe.



O topocídio, que seria a eliminação do significado cultural de uma dada paisagem atribuído por uma determinada sociedade é um caminho sem volta para a aniquilação de uma cultura, pois expõe sua fragilidade , mediante as forças topocídicas.  Tuan escreve em topofilia (1980) um trecho que endossa este raciocínio:

A ilusão de superioridade e centralidade provavelmente é necessária para a manutenção da cultura. Quandoa  crua realidade despedaça essa ilusão, é possível que a própria  cultura decline. No mundo moderno de comuniçãoes rápidas é difícil para as pequenas comunidades acreditarem que estejam, em qualquer sentido literal, no centro das coisas, embora algo dessa fé seja necessário se elas desejam prosperar. (TUAN, 1980, p.36)

AMORIM FILHO (1999), professor que tive o prazer de ser aluno, trouxe no final do milênio a sugestão do termo topo-reabilitação, que seria justamente a recuperação da paisagem com significado cultural que foram atacadas pelas forças topocídicas.
Em suma, a contribuição de Yi-Fu Tuan foi muito importante para os estudos de percepção ambiental. Estranho o fato de que o seu neologismo - topocídio - não tenha se tornardo uma palavra mais comum, tanto cotidianamente quanto no meio acadêmico.


                                                                        Yi-Fu Tuan
                                                     

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Dica de Leitura I - Persépolis

Introdução
Quando tive o primeiro contato com o livro Persépolis (Satrapi, Marjane. Persépolis, São Paulo: Companhia das letras, 2007), tive uma má impressão inicial. Era um livro de grande volume, composto por uma história em quadrinhos a respeito de uma iraniana. Esta primeira impressão não me motivou. Senti-me obrigado a analisar detidamente o livro, pois foi apresentado por um aluno, que insistia em me perguntar se havia lido. Enfim comprei e me surpreendi. Persepólis possui a linguagem lúdica do quadrinho combinada com uma profundidade muito interessante. Somente quem já leu bastante Persépolis consegue terminar sua leitura sem ficar em dúvida a respeito de alguns termos, bem como entender algumas piadas propostas.



Conteúdo
O livro é uma biografia de Marjane Satrapi, uma iraniana nascida em 1969 e que viveu os anos turbulentos da transição política do Irã que culminou com a Revolução islâmica de 1979. Pôde acompanhar, ainda criança, o Irã do xá Mohamed Reza Pahlevi bem como sua queda, que coincide com a ascensão do aiatolá Khomeini. Ao que pese a pouca referência a Khomeini em si, Persépolis apresenta importantes elementos comparativos da sociedade iraniana no período anterior e posterior a queda do xá. Persépolis apresenta também o contexto político social iraniano durante a guerra Irã x Iraque. Neste contexto, a sociedade iraniana vivia um duplo conflito: a tensão do cotidiano de um país em guerra juntamente com o fortalecimento da ortodoxia religiosa estabelecido pela Teocracia xiita. O livro também quebra alguns paradigmas importantes, como por exemplo a forte associação que comumente é feita entre a sociedade xiita e a ortodoxia religiosa, a medida que, o lar em que Marjane foi criado é um lar politicamente ativo e laico, o que acabou tornando a jovem iraniana como uma grande crítica do regime.

OBS: O livro já foi publicado no Brasil

Indicações para professores: Indico para professores que estejam trabalhando com a Revolução islâmica de 1979; com mudanças sociais a partir das revoluções e com Geografia Regional do Oriente Médio.
Habilidades do Enem presentes na interpretação do livro:

H3 - Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos.
H4 - Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H7 - Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações
H8 - Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H11 - Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 - Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 - Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou
rupturas em processos de disputa pelo poder.
H14 - Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca das instituições sociais, políticas e econômicas.
H21 - Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H24 - Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.

Ou seja, é um livro atual para as demandas do Exame Nacional do Ensino Médio.




quinta-feira, 22 de setembro de 2011

#2 A França emite as primeiras multas contra o uso do véu islâmico

A notícia desta quinta feira, 22 de setembro, publicada na Folha de São Paulo:
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"Um tribunal francês multou nesta quinta-feira uma mulher muçulmana em € 120 (cerca de R$ 302) por vestir em público uma burca, veste que cobre todo o corpo, só deixando uma tela sobre os olhos. Ela disse que vai recorrer da decisão no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos para obrigar a França a suspender a nova lei que proíbe o uso da burca. "
"A proibição, a primeira desse tipo na Europa, abrange o uso público do niqab, um véu árabe que expõe apenas os olhos, e a burca, veste ao estilo afegão. As infratoras estão sujeitas a multa de até € 150 ou a aulas sobre cidadania francesa. A lei foi criticada por muçulmanos no exterior por infringir as liberdades religiosas, mas pouco confrontada na França, um país estritamente secular onde menos de 2.000 mulheres, de uma comunidade de 5 milhões de muçulmanos, usam a burca."

A Crítica, por Leonardo Luiz Silveira da Silva:

O pioneirismo francês neste verdadeiro ato de resistência cultural, se deve às particularidades deste país no que diz respeito à presença de muçulmanos em suas fronteiras. Ex-metrópole de diversos países do Magreb (norte da África muçulmano, que inclui países como a Tunísia, a Argélia e o Marrocos), a França recebeu muitos imigrantes de suas ex-colônias. Em algumas de suas cidades, como Marselha, a presença de muçulmanos é ainda mais marcante. O medo da descaracterização cultural caminha lado a lado dos discursos a favor de uma lei de imigração mais rígida, que consiga dificultar o crescimento do contigente estrangeiro. Geralmente vindas de regiões menos desenvolvidas segundo o aspecto socioeconômico, as famílias muçulmanas possuem tamanhos médios acima dos padrões das famílias francesas, o que confere às primeiras o status de "bomba relógio demográfica" aos olhos dos conservadores. O crescente percentual de participação muçulmana frente ao total da população francesa é preocupante aos olhos dos franceses, que buscam nas atitudes xenófobas o seu aconchego. Pelo lado político, é plausível admitir que a lei é extrema, mas não impensada. Afinal, fechar os olhos para a "invasão cultural" pode significar aos partidos hegemônicos franceses ceder terreno aos partidos ultranacionalistas como o de Jean-Marie Le Pen, do Front Nacional, que já chegou a conquistar uma vaga em um segundo turno do pleito francês (em 2002), obtendo mais de 16% dos votos válidos do primeiro turno.
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                                           O ultra nacionalista francês Jean-Marie Le Penn


Por mais polêmica que seja a medida, certamente nos evidencia algo crucial: a de que o tema da descaracterização cultural através de tendências demográficas está gritando na França, podendo se agigantar em outros países. A lei francesa e sua implementação efetiva são bons convites para uma reflexão mais detida do tema, que será válida para aqueles que tiverem o bom senso de contrabalancear uma certa dose de relativismo cultural com algumas pitadas democráticas/liberais, apontando ainda, no ferver desta mistura, o papel do Estado para esta intricada questão.







quarta-feira, 21 de setembro de 2011

#1 Dilma defende Brasil no Conselho de Segurança da ONU

A Notícia desta quarta-feira, 21 de Setembro.
"NAÇÕES UNIDAS (Reuters) - A presidente Dilma Rousseff defendeu nesta quarta-feira que a legitimidade do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) depende cada vez mais de sua reforma e que o Brasil está pronto para assumir suas responsabilidades como membro permanente do grupo."


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Depois de aparecer como capa da revista Newsweek, com a manchete "Where Women are winning", Dilma continua debutando em outras searas. No discurso na Assembléia Geral da ONU marcou de forma decidida a posição brasileira a favor de um Estado palestino utilizando de uma bela retórica: a congratulação à participação do Sudão do Sul antecedeu o lamento pela ausência de uma delegação palestina (fato obviamente explicado pelo status político desfrutado pelo território ocupado por Israel). A cereja do bolo estava por vir. Não poderia faltar esta nota musical na melodia na primeira mulher a abrir a Assembléia Geral das Nações Unidas: O lobby pela vaga do Brasil em um cenário hipotético e cada vez mais alardeado de um Conselho de Segurança reformado.


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Desde o governo Lula, algumas atitudes do governo brasileiro podem ser vistas como políticas que visam potencializar a candidatura brasileira ao C.S. (Conselho de Segurança) reformado. Algumas delas estão listadas e comentadas:
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A) O perdão da dívida de alguns países africanos: Um continente retalhado políticamente, abrigando 54 países, é um lugar adequado para se construir uma boa imagem.
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B) A manutenção das tropas no Haiti: Reforça a posição de que os problemas latino-americanos são problemas brasileiros.
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C) O envolvimento nos distúrbios políticos em Honduras: Dificilmente a América Latina terá dois representantes em um C.S reformado. Apesar de ser muito criticada por analistas diversos, a interferência brasileira (concedendo abrigo político a Manuel Zelaya na embaixada brasileira em Tegucigalpa) é uma grande jogada contra o México, rival natural do Brasil mediante tudo o que representa regionalmente. Isto se deve ao fato de que a Honduras se localiza geograficamente próxima ao México, e a interferência brasileira transmite um recado brasileiro: "na América Latina cuido eu".
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D) O tom ameno contra o Irã e o abraço à Venezuela como membro do Mercosul: São duas notas musicais da mesma canção: a oposição à políticas tradicionais e bem marcadas dos EUA. Irã e Venezuela são países pouco acolhidos no ambiente internacional, que registram incidentes ou gafes diplomáticas recentes. Como muitos fazem oposição a estes países que fazem o estilo de "patinhos feios" da política internacional, apoiá-los pode significar conseguir um apoio recíproco de onde poucos obterão.




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E) A visita de Lula a Israel: O ex-presidente quebrou protocolo na ocasião (quando ainda chefiava o executivo), ao não depositar flores na tumba de Teodore Herzl (pai do sionismo). Além disso, visitou a tumba de Yasser Arafat, ex-liderança palestina. Não há desinformação tamanha que justifique tais atos, bastante pensados em prol de um objetivo, ao de se opor às políticas isralenses no que tange a relação bilateral com os palestinos. Abraçar a causa palestina com tanta veemência significa angariar simpatia daqueles que não mais toleram a intransigência de Tel Aviv.
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Daqueles que criticam a atual estrutura do C.S, exalam odores do argumento de que o atual conselho é um reflexo dos vitoriosos da Segunda Guerra Mundial, como também ecoa a idéia de que o mundo contemporâneo não condiz mais com o frágil pedestral que ampara os cinco integrantes: Eua, Reino Unido, França, Rússia e China. Estou bastante curioso para assistir os desdobramentos futuros nestes jogos ocultos que possuem como pano de fundo o poder e a glória das nações, simbolizada pela ascensão de um Estado ao Conselho de Segurança da ONU.